Dias de puro futebol na Argentina – 2025 – Mais dois novos estádios na conta
No meu terceiro dia de viagem em Buenos Aires, dois jogos estavam planejados e segui a risca os planos de ir a ambos: Deportivo Riestra x Sarmiento às 15h30 e depois, bem mais tarde, Lanús x River Plate às 21h15.
Já adianto que ocorreu tudo bem, sem nenhum imprevisto, mas de fato não eram dois jogos simples por questões bem práticas. Um ficava numa região perigosa da cidade. O outro ficava fora de Buenos Aires, em Lanús Este. Quando você sai dos limites do município, atravessando a General Paz, tudo muda.
Vamos aos fatos. O Deportivo Riestra fica em Bajo Flores. Região que no Brasil hoje nós chamaríamos de comunidade. Lá eles chamam de “villa”. E, quando eles lá querem nos explicar o que é uma “villa”, rapidamente falam em sotaque típico do portunhol: “favela”.
Por muita sorte, conversando com um amigo argentino, quando eu disse que ia a Riestra, ele disse “vá pela Avenida General Francisco Fernandez de la Cruz e não pela Avenida Riestra”. E, realmente, tem uma grande diferença. Cada avenida fica em um dos lados do Estádio do San Lorenzo, local chamado de Ciudad Deportiva San Lorenzo de Almagro.
Pelo lado que fui, Fernandez de la Cruz, de fato foi tranquilo. De dia é tranquilo, civilizado. Do outro lado, fica o Bajo Flores em toda sua extensão, com a Villa 1-11-14.
Fato curioso foi quando entrei no segundo ônibus para ir para o Estádio Guillermo Laza. Ao entrar no ônibus, você diz para o condutor até onde vai. Eu falei o endereço e ele me olhou assustado.
Fede, o motorista, logo perguntou: “o que você vai fazer aí”. E já emendou: “cuidado, hein?”, fazendo um sinal de arma para mim. Quando eu respondi que ia a um jogo do Riestra, ele já falou “você é maluco”. E durante o restante da conversa, quando eu expliquei o intuito da viagem e experiências que tive outras oportunidades, ele repetiu isso algumas vezes.
Ao perguntar sobre ser realmente perigoso, ou se ele estava exagerando, ele logo disse: “Sabe essa garrafa de Coca-Cola que você tem na mão? Então, ela é tão comum pra você, quanto as armas por lá”.

Juro que pensei em recalcular o passeio, mas fui até lá. Ao chegar na porta do Estádio, percebi que dei sorte mesmo, graças ao conselho do meu amigo argentino. O lado que fui, era bem tranquilo. Fosse do outro lado, teria passado algum aperto com certeza.
Cheguei na bilheteria e perguntei o preço, explicando que eu era jornalista brasileiro e queria conhecer o estádio. A moça que me atendeu falou “30.000 pesos”. Eu simplesmente agradeci e saí andando. Algo em torno de 125 reais para assistir um jogo de duas equipes pequenas? Eu não pago isso nem no Brasil.
Saindo dali, ouvi uma senhora falar outra pessoa que o preço era 20.000 pesos, que ela tinha acabado de comprar. Ou seja, foi um preço aleatório que me cobrariam caso eu estivesse disposto a pagar.
O Plano B foi acionado: conversar com as pessoas na porta. Logo, conheci o Gabriel, um torcedor do Boca Juniors, que vive na Villa Soldati, bairro ali bem perto. O rapaz foi bem frio, mas disse “vou tentar”. Ele esperava na porta para retirar um ingresso através de um amigo que é do clube. Logo, pediu mais um ingresso. Ao final, conseguiu três. Ou seja, ainda sobrou.

Assisti com ele o jogo. Um rapaz nota 10, cerca de dez anos mais novo do que eu. Excelente pessoa. Jogou na base do Deportivo Riestra, por isso o grande carinho que ele tem pelo clube. Mora algumas quadras de lá, ou seja, deve ser uma rotina para ele ir assistir o time jogar. Espero um dia poder voltar e acompanhá-lo por lá.
Bom, saí de Bajo Flores e fui para Lanús. Saí umas 17h30, cheguei por volta de 19h30, conforme havia combinado com um amigo percussionista do Lanús.
Lanús realmente é um clima diferente. Ao mesmo tempo que é um local tranquilo, você percebe que os torcedores organizados da “La Barra 14” não são tão bonzinhos. Lá, participei da prévia completa. Saída da praça Sarmiento e quatro quadras de caminhada até o Estádio Ciudad de Lanús – Néstor Díaz Pérez.
Achei impressionante o fato da torcida do Lanús cantar sem parar os 90 minutos. O estádio estava realmente lotado. E, me explicou um amigo de outro time, que muito provável que isso aconteceu pelo fato de o jogo ser contra o River Plate. Faz todo sentido mesmo, quando um dos gigantes vem te enfrentar, você tem que cantar no ouvido deles o jogo inteiro.
Preocupado com a volta, saí antes do final do jogo, porque ainda teria que pegar um ônibus na Estação de Lanús, ou seja, haveria ainda uns 15 minutos de caminhada. Pelo tempo que demorou meu ônibus, dava para ficar até o final, mas preferi não arriscar. Fato é que, depois de conhecer um Estádio e vivenciar o clima do jogo, a segurança passa a ser a prioridade. Voltei feliz para a casa, em um ônibus só: Linha 160, a mesma que me trouxe no dia que cheguei do Aeroporto para Palermo.



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